quinta-feira, 12 de setembro de 2019


ASSADO SEM BRASA

                                                                                                      Krretta


         Sempre digo que o Canto do Abranjo possui histórias fantásticas e dignas de constarem nos meus livros, ainda não publicados.
         Um dia ainda vou publicá-los...quando sobrar níquel...difícil, mas não impossível.
         Lá, temos a felicidade de ter passado para a nossa geração mais nova, todo o amor que sempre dedicamos para aquele lugar, a amizade sincera que formamos, e mais ainda, os valores que sempre nortearam nossas vidas.
         E, eles, sabiamente, aprenderem a lição e carregam consigo tais ensinamentos, o que muito nos orgulha.
         Seguindo a tradição, continuamente eles se juntam no Chalé do Chiquinho, como ficou conhecido aquele canto, para confraternizarem, uma vez que nem todos são moradores de Encruzilhada do Sul...
         É a amizade que fala mais alto e o desejo de se reencontrarem para uma boa conversa, uma cervejinha amiga, porque ninguém é de ferro e, logicamente que um assado gaúcho.
         Assado gaúcho...
         As histórias são muitas e, que merecem registro, no entanto, a meu ver a que passo a lhes contar abaixo, é “sui generis”.
         Nunca vi nada parecido.
         E, se esta história for contada longe dos pagos, com toda a certeza ninguém vai acreditar, pior ainda, vão taxar o narrador de “baita mentiroso”.
         Vou vender o peixe pelo que comprei...
“Pois então foi marcado um encontro no Canto do Abranjo, lá no Chalé do Chiquinho.
A gurizada toda, mais faceira que pinto em quirela, passou aquela semana toda combinando o tal de acampamento.
Quem leva a carne, quem compra a cerveja, não pode esquecer o carvão, caixas com gelo, um mísero sache de pó de café e um vidrinho de açúcar, pão e uma linguiça para o aperitivo.
Eis que aí está o básico, pois poderão surgir outras guloseimas no decorrer do encontro, sabe-se lá...
Quem já está aqui em Encruzilhada do Sul chegam primeiro, e aguardam os outros que moram fora do município, a grande maioria na Capital do Estado.
Tá valendo.
Dia do encontro.
Lá foram eles para a grande festa.
À noitinha começaram a chegar os forasteiros, conversa prá cá, conversa prá lá, conta um causo aqui, outro caso por lá, e a festa foi se formando.
Lá pelas tantas, alguém deu no grito: - E o churrasco? Tamo com fome!
- Vamos fazer o seguinte: enquanto nós jogamos um escovão, o G.V assa a carne prá nós, fechado?
- Deixa comigo! - gritou de lá o G.V, depois de umas quantas cervejinhas já tomadas.
E assim foi feito, e assim a coisa continuou, uns jogando escovão, outros tomando uma cervejinha e o G.V, depois que espetou a carne, colocou o carvão na churrasqueira, estava assando a carne.
Mas o tempo foi passando e, a fome foi batendo também na turma.
Imaginem aqueles que saíram do trabalho, viajaram prá Encruzilhada, sem nem um lanchinho, varados de fome...
Com certeza estavam sonhando com um pedaço de carne suculento, uma gordurinha douradinha, aquele sal no ponto...
Já lá pelas cansadas, talvez mais de hora e meia, alguém gritou:
- Ô G.V, não tem um aperitivo aí prá ir enganando a fome?
- Tamo varado...!
- Vai lá fulano, corta um aperitivo prá nós.
E o Fulano foi, e o Fulano olhou na churrasqueira, e o Fulano se apavorou..., xingou, esbravejou, gritou, esperneou...
A carne era a coisa mais linda, no preceito, bem espetada, bem salgada, e o carvão estava misturado com lenha para dar aquele gostinho diferente, no entanto, o G.V, depois de todo aquele tempo e meio “confuso das vedinhas”, ainda estava com a carne totalmente crua: “não tinha acendido o carvão”!
Sim, é isso mesmo, o G.V estava assando a carne sem fogo, há mais de hora e meia...”
Durma-se com um barulho desses...


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