terça-feira, 8 de março de 2011

CINZAS

Krretta
hcarretta@yahoo.com.br


Tudo é silêncio.
Ficaram para trás sonhos e fantasias entre confetes e serpentinas.
Um pouco da cidade, dorme.
Alguns transeuntes caminham, agora, em busca de seus destinos e, logo adiante, um folião descomposto, em meia vestimenta, briga com o sol em favor de outra lua.
As janelas das casas, muitas, estão fechadas, ou, postigos entreabertos, não deixam que a luminosidade penetre na sala, lá, possívelmente, dormem corpos encharcados pelo cansaço da entrega as folias, agora, aos cuidados dos devaneios.
Os tecidos que foram dantes, radiantes pierrôs e colombinas, jazem em desalinho num canto qualquer, quem sabe em cima de uma cadeira, ou, desoladamente jogada ao chão, num misto de graça e dor, por quem agora descobre-se longe do amor.
O tempo, sisudo, não tem graça.
É cinza.
Nuvens escuras ornamentam o céu, por cima de uma decoração presa aos fios, numa passarela que foi intensa de alegrias, da descontração dos pares, do bailado de um mestre-sala com a sua porta-bandeira, e, a marcação firme do surdo de contra-ataque bem ao compasso dos corações, templo sagrado dos sambistas, ora invadida impiedosamente, agora, por carros que teimam em ir e vir, reintegrando-se ao cotidiano.
A vida recomeça aos poucos.
Alguns pingos de chuva caem.
Dirão os poetas que são lágrimas dos apaixonados por saberem da reprise de suas histórias só no ano que vem, quem sabe a saudade de um amor incerto que nunca deveria ter batido as portas do seu coração.
Calam-se as canções.
Não se ouve mais músicas no ar.
É preciso mais do que depressa espantar a tristeza.
Fazer voltar à felicidade, porque os sorrisos estão adormecidos em algum lugar.
Aos poucos, tristemente, tudo vai voltando ao que era antes.
Ah! A dor da saudade.
Como disse o “Poetinha”:
“Acabou o nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações, saudades e cinzas foi o que restou.
Pelas ruas o que se vê, é uma gente que nem se vê,
Que nem se sorri, se beija e se abraça,
E sai caminhando, dançando e cantando cantigas de amor.
E, no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade...”
Hoje, é quarta-feira de cinzas.
Ficam saudades, amores, paixões, vão-se também, desfazem-se os sonhos e as fantasias, e, abrem-se as cortinas da vida real.
Hoje, é quarta-feira de cinzas.
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N.A. –“... minha escola estava tão bonita, ERA TUDO O QUE EU QUERIA VER”!!!!!

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