O MOMENTO É SÓ SEU
Krretta
Ninguém, nem nós mesmos, conhecemos as
nossas reações diante de uma situação inusitada.
O certo é que criaram pretensos
paradigmas no enfrentamento de algumas circunstâncias, que são verdadeiras
crueldades.
São momentos singulares, portanto só
seus, que transmitem sentimentos muito complexos e extremamente sensíveis, e
isso precisa ser respeitado.
Muito eu vi, depois li, e ainda o
cotidiano revela estes atos impiedosos, no entanto, em sua grande maioria traz
inserido na mensagem principal, o desejo de ajudar, é verdade.
Nem mesmo sei porque entrei nessa
conversa, mas ela será de frente, sem argumentos capciosos, e nem subterfúgios,
deixaremos as hipocrisias de lado, encarando a crua realidade, pois é ela quem
dita às regras e quem comanda as nossas atitudes, sejam elas quais forem.
Não quero, sob hipótese nenhuma, ferir a
suscetibilidade de ninguém, por favor, no entanto é preciso ser bastante
verdadeiro e límpido nestas considerações, no intuito de, quem sabe, poder
ajudar uma, duas, ou várias pessoas.
O tema versa sobre o que ninguém, em
nenhum momento de toda a sua vida gostaria de se defrontar: o diagnóstico de um
câncer.
Sim, eu sei, é extremamente cruel.
Dói, o mundo cai, cinza e entorpecido é
o tempo, entramos em pânico, morremos muito ali naquele momento.
Planos se
esvaiam, o futuro é enfermiço, desaparece, e aquele filme passa inteiro em sua
mente: o filme da sua vida.
E, se não bastasse tudo isso, premissas ainda
impõem implacáveis mitos aos que padecem desta intensa infelicidade, que são
inexoráveis torturas.
Não, não atenda a estes chamados, ao
contrário, acenda a sua autoestima, clame por sua autenticidade, imponha
coragem, instigue a sua independência, e mande para aquele lugar todos estes
preceitos.
Quais?
Pois,
na ânsia da solidariedade, aconselham:
“Você tem que ter calma, você tem que ter
pensamento positivo, você tem que ser otimista, você tem que se ajudar, você
não deve esconder. . .”
Pqp! Não! Decididamente não!
Você é você mesmo, insurja-se como der e quiser.
Se não puder, não mantenha a calma,
ninguém precisa manter a calma nessa hora.
Xingue, chute, grite, chore, quebre,
faça o que você tem vontade de fazer.
Desabafe, você é um ser humano, não um espectro
sem sentimentos.
Assim como ninguém precisa ter pensamento
positivo, porque ninguém consegue ter pensamento positivo nessas circunstâncias,
aliás, só negativo, entendem ou querem que desenhe?
Sugerem otimismo.
Mas que otimismo numa hora dessas? Vão
se catar!
E, mais, se não quiser falar para
ninguém, não fale, é um direito seu, você não é obrigado a dar publicidade a
sua dor, ao seu martírio, você é você, com o seu destino e suas fraquezas.
Não ceda! A sua vontade é soberana!
Que fique bem claro: ninguém é culpado
por esta doença aparecer.
É de uma crueldade atroz, é desumano
insinuar que a pessoa foi quem “fez” a doença, por uma tristeza, por uma
separação, por uma grande perda, frustração ou mágoa. . .
Tudo isso é uma grande idiotice.
Ninguém faz câncer, ou opta por ter
câncer!
Inconscientemente!
E quem carrega consigo um interruptor
liga/desliga, da vida e das suas surpresas?
Magoam sobremaneira a quem já está
sofrendo tanto.
Sim, tudo pode vir com boa intenção, mas
acabam ferindo ainda mais quem já está totalmente fragilizado.
E, mais, sim, é verdade que os efeitos colaterais
do tratamento doem, machucam de todas as maneiras, e acabam com todas as
vaidades, é verdade sim que o sentido literal da expressão “fim da linha” passa
a existir.
Pois é o que está valendo, é o momento,
é o que se está vivendo.
Faça-se, sempre, existir à sua vontade.
Por fim, eu me atreveria a dar um
conselho: não consulte e nem pesquise a internet, consulte e fale com o seu
médico.
Vá passo-a-passo, caminhe um dia de cada
vez, e faça o que precisa ser feito.
E chore sim, se tiver vontade, desabafe,
grite, chute, quebre, e ignore totalmente os olhos de dó e compaixão.
O momento é só seu.
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