terça-feira, 19 de dezembro de 2017



A BENZEDURA
( Histórias Não Escritas do Banco do Brasil)
                                                                                Krretta
       
O serviço de fiscalização do Banco do Brasil sempre foi um caso à parte.
        Dali surgiram as mais hilárias e inimagináveis histórias deste grande conglomerado, muito principalmente pela necessidade da confecção dos famosos laudos de vistoria.
        Conviver com nossos mutuários no seu habitat foi uma dádiva de Deus, e, com toda a certeza nos fez mais “gente”, pela simplicidade e filosofias do homem do campo.
        Poderia ficar aqui por muito tempo dissertando sobre o assunto que, além de ser prazeroso, nos recorda os tempos felizes de um Banco o Brasil que já sucumbiu, pela ausência de seus velhos e apaixonados funcionários.
        Existem incontáveis reuniões de folhas impressas e montadas em capa que relatam tais histórias e, estão espalhadas em cada agência do BB, traduzindo as peculiaridades das suas regiões e de seus personagens.
        Muitas, com toda a certeza, vamos contar aqui, tal qual a que dá o nome a este título, A Benzedura.
        Pois nosso colega Zé, o mesmo que mandou um “88” (na nomenclatura dos PX é igual a = um beijo) para um cliente, também é o protagonista deste fato.
        Então, o Zé, que era fiscal da Creai desta feita, tinha um fusquinha que aquecia a bobina (os fusquinhas tinham essa mania).
        É sabido quando aquece a bobina deixar ela esfriar para virar arranque, podendo, dentro de algum processo, apressar esse resfriamento.
        Aliás, carro de fiscal é sempre uma caixinha de surpresa.
        Lembro que num Opala daquela época, nasceu um pé de milho no porta-malas.
        Mas, estava ele fazendo uma vistoria lá pelo lado do Cerro Partido e, embarcado vinha o mutuário mostrando as suas lavouras, quando, depois de uma grande campereada, o tal do fusca dá sinal de cansaço e apaga pelo aquecimento da bobina, bem dentro de uma sanga.
        Era perto do meio-dia, e a fome estava apertando quando se lembravam que tinha uma galinhada em cima do fogão de chapa, junto com uma panela de ferro com feijão, esperando-os.
        A pressa fazia com que o arranque fosse virado diversas vezes e, é claro que o carro não pegava.
        Então, o Zé pediu ao mutuário que se ajoelhasse junto com ele, pois ia benzer o carro.
        Para a benzedura um pano era molhado e colocado envolto na bobina, repetidas vezes e, a cada molhada faziam o sinal da cruz e o Zé proferia umas palavras indecifráveis.
        Ao cabo de alguns minutos e, notando que a bobina tinha esfriado, nosso fiscal convidou o mutuário para rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria, pedindo que se levantassem e entrassem no carro.
- Tem certeza, seu Zé?
- Confia na benzedura, homem! – respondeu.
O mutuário extremamente sério, concentrado da reza, aguardou ansioso o movimento da chave na ignição e, para o seu espanto, o fusquinha funcionou.
        Aleluia!!! Milagre!!! Jesus na causa!!!
Então, compenetrado nas suas palavras e convicto da benzedura, o mutuário falou:
- Seu Zé, acredito porque estava junto, pois nem meu pai contando eu acreditaria!

        O Zé virou Guru da redondeza, e até casamento foi convidado para oficializar.

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