segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

BARQUINHOS DE PAPEL

Krretta
hcarretta@yahoo.com.br


Que estamos vivendo a estação de verão, disso ninguém tem dúvidas, pois o intenso calor que se faz sentir por estes dias, nos dá a certeza da época do ano.
Verão é sinônimo de temperatura quente, de desprendimento, de sorvete e picolé, de praia, de vento no rosto, chuva e sol, verão é sinônimo de alegria, de sorrisos, de caminhar sem lenço e sem documento por aí afora, verão é sinônimo de liberdade...
Pois é, eu me lembro há muitos anos atrás que o verão era sinônimo de tudo isso que foi citado aí em cima, mas, na época, era sinônimo também de calção, pés descalços e muito banho de chuva.
Dia desses saí para caminhar mesmo com o tempo armado para chuva.
Muito embora estivesse de calção, mas os pés calçavam tênis e meias e, a camiseta vestida não me deixava lembrar dos tempos pueris.
Investido do intento de completar o percurso, pois caminhar exige determinação e, cumprimento do trajeto pré-estabelecido, a chuva não demorou a cair e, me pegou na metade do caminho.
Que maravilha!
Mesmo estando longe da minha terra natal, mesmo estando sem o traje específico da época, mesmo sem ter programado nada, fui arremessado para os anos infantis e, me vi totalmente envolvido pelas felizes lembranças daquele tempo.
Vou tomar um banho de chuva, que maravilha!
E, assim, prossegui no meu intento, pedindo que a chuva não cessasse, para que tivesse a chance de recordar um pouco mais das meninices que ficaram para trás.
Como disse ainda há pouco, verão naquela época era sinônimo de calção, pés descalços e banhos de chuva.
Lembro-me que ficávamos todos inquietos quando o tempo se armava para a chuva e, sabíamos que logo em seguida, quando o tempo desabasse em um aguaceiro, estaríamos tempestivamente na rua, correndo em busca dos pingos de água que lavavam nossas almas de crianças.
Pois era isso que eu pensava enquanto caminhava.
Lembrava-me das brincadeiras na chuva, das correrias de encontro às poças d’água, das calhas e telhados que se tornavam cascatas imaginárias e, dos barquinhos de papel nas beiras de calçadas, viajando naqueles verdadeiros rios ilusórios, cheios de barragens, obstáculos, e, sabe-se para onde nos levavam naquelas fantasias.
Os barquinhos de papel.
Nada disso eu vi enquanto caminhava sob a chuva.
Não vi nenhuma criança de calção e pés descalços na chuva, não vi ninguém embaixo das cascatas imaginárias, e, não vi nenhum barquinho de papel.
Vi muitos rios indo para algum lugar, mas, de que adianta existirem os rios se não existem crianças navegando neles, de que adianta levarem a algum lugar se neles não navegam nenhuma imaginação?
Talvez um filme na televisão, hoje em dia, seja mais interessante do que banhos de chuva, pés descalços e barquinhos de papel... ou o playstation 3, o Orkut, ou quem sabe o facebook...
Ora, que ingenuidade a minha em querer ver crianças brincando na chuva só de calção, pés descalços e, navegando seus barquinhos de papel com destinos estipulados e tripulações a postos.
Meu banho de chuva que começou com uma intensa alegria e, me jogou para tantas lembranças, também trouxe algumas tristezas, talvez por não ter mais nas ruas os gritos alegres e marotos das crianças de calção e pés descalços brincando na chuva com seus barquinhos de papel, tal qual os dias que me vieram na lembrança.

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