terça-feira, 2 de novembro de 2010

NÃO SE CULPE

Krretta
hcarretta@yahoo.com.br
NÃO SE CULPE

“Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que sonha a tua filosofia” – William Shakespeare.
Pois li na revista Isto É, edição nr. 2136, de 20.10.2010, sensacional entrevista da atriz e comediante Márcia Cabrita, 47 anos, que dissertou sobre a sua doença, diagnóstico de tumor de ovário, agora em março/2010, que vai justamente ao encontro daquilo que penso sobre estas situações ditas complicadas e muito sensíveis.
Existem aí mitos que as pessoas impuseram aos que padecem de tais complicações que são verdadeiras torturas.
A atriz Márcia Cabrita dá uma verdadeira aula de autenticidade, de autoestima e, de total independência aos preceitos ditados, que são dignos de que se adote, pois as coisas não são como muitos pensam que são, basta absorver o que afirma o dramaturgo e poeta inglês W.Shakespeare citado acima.
Indagada se quando recebeu o diagnóstico manteve a calma, de pronto a atriz falou que não, e, disse que ninguém precisa manter a calma numa hora dessas, e, que amigos e familiares acabam cobrando muito: que você tenha pensamento positivo seja otimista e forte.
Mas ignoram que num momento destes a pessoa não consegue isso e, como é normal, diga-se de passagem, só tem pensamentos negativos, exatamente o inverso.
Em decorrência disso acaba achando que não poderá ficar boa porque não é capaz de ter pensamentos bons e, que só os otimistas é que vencem esta batalha, então, está fora desta possibilidade.
Em outro momento a comediante Márcia Cabrita afirma: “... uma crueldade também é a busca de todos por um culpado para o fato de o câncer ter aparecido”; o que no caso era ela.
Mais uma vez casamos nossos pensamentos, pois é muito desumano insinuar que a pessoa é que “faz” a doença maligna porque ela era triste, porque se divorciou, porque comeu agrotóxico, porque é magoada com esta ou aquela situação, guarda rancor...
Ninguém “faz um câncer”, ou opta por estar doente, entendam isso, portanto, como culpar uma pessoa?
Quem se compraz em fazer este mal, em atormentar ainda mais quem tem uma luta toda pela frente, não merece esta amizade, aliás, quem foi que afirmou ter veracidade tal crueldade?
Não se duvida das boas intenções, mas, a bem da verdade, ninguém sabe bem como lidar com estas situações, e, com certeza acabam magoando quem já está sofrendo tanto.
Do mesmo modo, e, agora aqui também é pungente, afirmar, como expressa a personagem em questão, de que a portadora da doença é estritamente responsável pela sua recuperação.
Se tiver cabeça boa, fica curada.
Se não, não.
Diz Márcia Cabrita que isto é colocar a responsabilidade da doença em quem está doente, o que discorda totalmente, se isentando de toda e qualquer responsabilidade pela cura.
O que aconteceu com ela pode acontecer com qualquer pessoa, seja ela triste, magoada, criança, velha, ator, otimista ou não.
Entre muitas outras coisas a atriz fala que se importou sim em perder os cabelos, pois isto leva a vaidade feminina ao fundo do poço e, não venham com outro tipo de consolo, que depois tudo vai voltar ao normal, o que vale é o momento presente, e, é por ele que se está passando, o futuro, ainda está por vir.
Entre outros conselhos, esta mulher tão genuína, leal aos seus conceitos e filosofias, deixa alguns alertas, também verdadeiros e muito humanos:
- não “consulte” a internet, pois não há nada pior para um leigo, informe-se sempre com seu médico;
- um dia de cada vez, faça o que precisa ser feito;
- dê a si espaço para desabafar o que está sentindo – chorar, chutar, quebrar e, ignore os olhares “pé na cova”.
Sensacional!!!!

Nenhum comentário: