ESPÍRITO DE NATAL
Krretta
Há muito tempo atrás,
por estas horas, eu já não continha mais a ansiedade.
O banho seria mais cedo
e, depois, como de praxe, passearíamos pela Avenida Sete de Setembro, em Bagé,
donde as vitrines das lojas expunham os mais lindos brinquedos, enfeitadas de
muito brilho, muita luz e cantigas natalinas a tocar.
Brincávamos de escolher
os presentes que, naquela noite, Papai Noel iria nos trazer.
A magia de nos iludirmos
era qualquer coisa de encantamento da vida, nesta época do ano.
Sabíamos que era
impossível a realização dos nossos sonhos, mas o espírito natalino fazia com
que não pensássemos desta maneira, ao contrário, que um milagre poderia
acontecer, por que não?
As calçadas eram
repletas de pessoas e crianças a buscar naquelas vitrines, atraídas pelos seus
coloridos, os sonhos sustentados durante um ano inteiro.
Via-se em cada olhar, em
cada semblante, a felicidade de estar vivendo aqueles momentos, e sim, a vida
também ficava bem mais colorida, bem mais feliz, alegre por excelência.
Não perdíamos uma só
oportunidade de gritar, a plenos pulmões, que tínhamos visto por primeiro
aquela bicicleta sonhada em todos os natais, a bola de couro número 5 por tanto
tempo desejada, até mesmo um violão, o qual sempre foi o meu desejo na infância
e, frustração quando pude comprar e até hoje não sei tocar.
Papai Noel me inspirou,
mas não fui contemplado com o talento de ser violeiro, afinal, nem tudo é
perfeito nessa vida...
Contudo, tínhamos amor,
muito amor em nossa família e jamais passava pelos nossos pensamentos, o
possível e distante dia de nossas separações.
Caminhávamos
descontraidamente, pois a noite seria longa, havíamos saído cedo, e a casa da
minha avó seria o nosso destino final, quando nos encontraríamos com os tios,
as tias e os primos.
A festa estava
garantida, então, o mais que poderíamos fazer seria curtir, e muito, o passeio
nas calçadas festivas de Bagé.
A verdade é que o Natal
nos comovia, pelas cenas de felicidade que víamos, pelas árvores de natal,
pelos presépios com a manjedoura, os animais ali representados e o respeito
egrégio ao recém-nascido, Menino Jesus.
Havíamos aprendido desde
a tenra infância de que o Aniversariante daquela data havia nascido pobre,
humilde, de muito poucas posses, numa estrebaria entre animais, com José e
Maria.
Mas que simbolizava
muito amor, muita solidariedade, compreensão, exalando ternura e bondade
trazidas na sua alma e no coração.
Aprendemos, em primeiro
lugar e antes de tudo, a amá-lo e respeitá-lo sobre todas as outras coisas.
Hoje, desapareceu o
Menino Jesus e, em seu lugar tomou posse o Papai Noel, que reina absoluto,
tendo clones em todos os lugares que se possa imaginar.
A sociedade de consumo
matou o espírito de Natal.
A mensagem única que se
escuta e que se vê não admite discussões, ou seja, a palavra de ordem é comprar
para presentear e, atender desejos circunstanciais, tal qual a brincadeira dos
amigos secretos, nesta singular noite de outros sentimentos.
Tudo se distanciou.
Perdi na poeira do tempo
as minhas calçadas repletas de gente feliz, as vitrines coloridas, iluminadas,
as cantigas que falavam de um amor incondicional, os imaginários presentes que
nunca aconteceram, mas não o respeito, a devoção e a fé naquele que aos 33 anos
de idade, foi preso, vilipendiado, torturado e, finalmente morte sob o poder de
Pôncio Pilatos.
Perdemos as mensagens de
amor e a oração, por meras corridas às compras, para presentear por hábito ou
obrigação social.
Que Menino Jesus nos
perdoe...
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