quinta-feira, 31 de outubro de 2019


FAGULHAS, EM LABAREDAS

                                                                                                                                                                                                                     Krretta

            Escrevo sobre o tema porque recentemente estive no Chile, e vi um país organizado, as cidades com ruas limpas, os prédios sem pichação, praças maravilhosas, trânsito muito bem organizado, pessoas as mancheias caminhando pelas ruas até altas horas da madrugada tranquilamente e, sim, uma economia de alto custo, ainda mais para nós, turistas brasileiros.
            Se, há um ano atrás comparássemos o nosso salário mínimo com o deles, superavam-nos e, por isso achamos as coisas caras por lá.
            O país era um exemplo de estabilidade na América Latina.
            Hoje, no dia 23/10/2019, quando disserto estes comentários, tenho a sensação de que o Chile era uma panela de pressão pronta para estourar, e, é lógico que nem imaginávamos.
            Não foi o R$ 0,20 (traduzindo para a nossa moeda) do aumento das passagens do metrô a grande causa de todo esse tumulto, e sim os indicadores sociais.
            Para que possamos entender, no Chile o setor educacional universitário é totalmente pago.
            Todos os que lá estudam no terceiro grau, pagam por este estudo e, se não possuem dinheiro para pagar, financiam (como um Fies), só que depois não conseguem repor o financiamento.
            A previdência é privada.
            A população tem o livre arbítrio de escolher qual a empresa que vai gerenciar a sua aposentadoria, mas ninguém têm uma previsão de que este aposentado vai precisar para viver, ou melhor, se o dinheiro que ele contribuiu chegará “a tiro de laço” até a sua morte.
            A saúde também é privada.
            Seria um SUS pago, pois o cidadão tem direito ao atendimento médico, no entanto, paga uma parcela deste atendimento.
            E, quem está protestando?
            A classe média e a classe média baixa.
            Embora, em relação ao Brasil, o salário mínimo lá pode-se considerar bom, para os chilenos é muito pouco tendo em vista o alto custo de vida deles.
            Daí conclui-se que esta faixa da sociedade está cada vez mais excluída, porque os salários são insuficientes para pagar todos os serviços privatizados, como por exemplo a água e as estradas, que também são desta iniciativa.
            O aumento da passagem do metrô foi só o estopim.
            Os chilenos estão dizendo ao governo que: “não temos mais como pagar nada...”
            Mas, claro que a violência não é o caminho.
            Os protestos, aliás todos e em qualquer lugar do mundo, deveriam acontecer dentro da normalidade legal.
            Não é admissível que o vandalismo seja “a priori”, nas reivindicações, onde até o metrô foi destruído lá no Chile e muitos inocentes morreram nas agitações.
            Sabe-se tristemente, que também na Catalunha, em Hong Kong, no Reino Unido, explodem manifestações também violentas.
            Será que os regimes democráticos estão em xeque?
            E o Estado, por mais agredido que possa estar, ainda deve garantir o direito à livre expressão, que é direito básico de uma democracia, mas como?
            Vendo a sua casa sendo destruída, vendo o patrimônio de seus cidadãos depredados, comércios sendo dizimados?
            A que nível a tolerância deve chegar? E a que nível chega uma manifestação?
            Como manter a paz social e o direito de ir vir, sem violência e agressões que podem levar até a morte?
            Olhando passivamente Roma ser incendiada?
            Um ponto de equilíbrio haverá de ser encontrado para os nossos irmãos chilenos, assim como todos os outros.
            Equacionar essas variantes é que são elas...
            Aos políticos: é preciso ter perspicácia cirúrgica para não transformar fagulhas em labaredas incontroláveis.


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