quinta-feira, 3 de outubro de 2019


DE NOVO, OS ENOCHATOS

                                                                                                                                                                                                               Krretta

- ...este vinho tem um blend agressivo, austero, brilhante, taninos marcantes, intenso, traduz “remembers” de folhas de plátanos tostadas no calor senegalesco que brota da superfície asfáltica...
         Lembram disso?
            Pois esse era o diálogo em um restaurante da capital do Estado, entre duas pessoas que estavam degustando um vinho, nada mais do que isso.
            São os famosos enochatos.
            Aqueles que estamos cansados de conhecer e que pensam saber tudo sobre vinho, mas na verdade são uns grandes chatos, entediantes, e enfadonhos bebedores de suco de uva fermentado.
            Não passam disso.
            Ah, porque vinho tem que tomar a temperatura ambiente, porque vinho não pode tomar com isso, com aquilo, tem que harmonizar com este prato, com aquele, esta uva tal deve ser bebida assim, a outra assado e, no fim, tomam Frei Damião de garrafão, branco/suave, na falta de outra bebida.
            Não que ninguém possa tomar Frei Damião de garrafão e ainda por cima suave (ao menos esses são mais autênticos...), pois cada um bebe o vinho que quer, do jeito que quer, quando quer...
            O que é maçante em toda essa história é que os enochatos adoram se meter no vinho dos outros., no paladar dos outros, na vida dos outros.
            E, a principal frase que gostam de proferir: “Vocês não sabem tomar vinho!”
            Ele é quem sabe, sabe até mais que os enólogos, que os sommeliers, que os deuses do vinho...
- Não, tu não podes botar o vinho na geladeira! Vinho não se toma gelado.
            Eu boto a minha garrafa de vinho aonde eu quiser, no sol, na geladeira, na água, no congelador...aliás, como diz um amigo meu: “Eu gosto de vinho em floquinhos”! Pronto!
- Ah, mas o vinho tem que abrir meia hora antes, para a bebida respirar.
            Pois o meu vinho já levei no plantão médico e coloquei ele no balão de oxigênio, já veio pronto e totalmente respirado.
            Aliás, já até comprei uma maleta daquelas com uma bombinha de oxigênio, particular, para levar comigo cada vez que vou beber vinho.
            Mas vão se catar!
- Vinho bom é vinho acima de 100 reais, porque esses vinhozinhos de vinte e cinco pila nem pensar, não entram na minha adega.
            Pois seu eu encontrar um D.V. Catena azedado, por cinco pila, eu tomo.
            Paladar não se discute e bolso muito menos.
            Feliz daquele que pode pagar mais caro por um suposto vinho bom, porque eu já vi muita gente comprar vinhos caríssimos e serem horríveis, pior que o nosso Frei Damião, branco/suave, ou estarem avinagrados.
            Depois, ficam com uma cara...
            Pois digo mais, eu agora estou adotando uma regra básica, principalmente nas rodas sociais “botequísticas”, “barísticas”, “restaurantísticas”, pois que está na moda as rodas de vinho, assim como rodas de capoeira, rodas de samba e rodadas do campeonato brasileiro de futebol: cada um bebe o vinho que leva!
        Ou seja, cada um com o seu vinho.
            Isto vai evitar muitos constrangimentos, muitas caras feias, muitas discussões, pois que cada um tem o seu paladar e gosta daquele vinho, caso contrário não o compraria e, muito menos o beberia, pois então, vai beber o seu vinho.
            Não me convidem para colocar o meu vinho na rodada e bebermos todos os que lá estiverem...
Se não entenderem, posso até desenhar: eu quero beber o meu vinho e, se o meu vinho acabar, levanto e vou embora, ou abro uma cerveja bem gelada, quem sabe até peça um Frei Damião branco/suave, com uma ou duas pedras de gelo dentro, pois o gosto é meu, o dinheiro é meu e eu bebo o que eu quiser e, como quiser.
            Chega de enochatos!
(A idade me fez perceber que: As pessoas mais caras são aquelas com quem a gente pode tomar o vinho mais barato e falar sobre qualquer assunto).   

           

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