DE NOVO, OS ENOCHATOS
Krretta
- ...este vinho tem um blend agressivo, austero, brilhante,
taninos marcantes, intenso, traduz “remembers” de folhas de plátanos tostadas
no calor senegalesco que brota da superfície asfáltica...
Lembram disso?
Pois
esse era o diálogo em um restaurante da capital do Estado, entre duas pessoas
que estavam degustando um vinho, nada mais do que isso.
São
os famosos enochatos.
Aqueles
que estamos cansados de conhecer e que pensam saber tudo sobre vinho, mas na
verdade são uns grandes chatos, entediantes, e enfadonhos bebedores de suco de uva
fermentado.
Não
passam disso.
Ah,
porque vinho tem que tomar a temperatura ambiente, porque vinho não pode tomar
com isso, com aquilo, tem que harmonizar com este prato, com aquele, esta uva
tal deve ser bebida assim, a outra assado e, no fim, tomam Frei Damião de
garrafão, branco/suave, na falta de outra bebida.
Não
que ninguém possa tomar Frei Damião de garrafão e ainda por cima suave (ao
menos esses são mais autênticos...), pois cada um bebe o vinho que quer, do
jeito que quer, quando quer...
O
que é maçante em toda essa história é que os enochatos adoram se meter no vinho
dos outros., no paladar dos outros, na vida dos outros.
E,
a principal frase que gostam de proferir: “Vocês não sabem tomar vinho!”
Ele
é quem sabe, sabe até mais que os enólogos, que os sommeliers, que os deuses do
vinho...
- Não, tu não podes botar o vinho na geladeira!
Vinho não se toma gelado.
Eu
boto a minha garrafa de vinho aonde eu quiser, no sol, na geladeira, na água,
no congelador...aliás, como diz um amigo meu: “Eu gosto de vinho em
floquinhos”! Pronto!
- Ah, mas o vinho tem que abrir meia hora antes,
para a bebida respirar.
Pois
o meu vinho já levei no plantão médico e coloquei ele no balão de oxigênio, já
veio pronto e totalmente respirado.
Aliás,
já até comprei uma maleta daquelas com uma bombinha de oxigênio, particular,
para levar comigo cada vez que vou beber vinho.
Mas
vão se catar!
- Vinho bom é vinho acima de 100 reais, porque
esses vinhozinhos de vinte e cinco pila nem pensar, não entram na minha adega.
Pois
seu eu encontrar um D.V. Catena azedado, por cinco pila, eu tomo.
Paladar
não se discute e bolso muito menos.
Feliz
daquele que pode pagar mais caro por um suposto vinho bom, porque eu já vi
muita gente comprar vinhos caríssimos e serem horríveis, pior que o nosso Frei
Damião, branco/suave, ou estarem avinagrados.
Depois,
ficam com uma cara...
Pois
digo mais, eu agora estou adotando uma regra básica, principalmente nas rodas
sociais “botequísticas”, “barísticas”, “restaurantísticas”, pois que está na
moda as rodas de vinho, assim como rodas de capoeira, rodas de samba e rodadas
do campeonato brasileiro de futebol: cada um bebe o vinho que leva!
Ou seja, cada um com o
seu vinho.
Isto
vai evitar muitos constrangimentos, muitas caras feias, muitas discussões, pois
que cada um tem o seu paladar e gosta daquele vinho, caso contrário não o
compraria e, muito menos o beberia, pois então, vai beber o seu vinho.
Não
me convidem para colocar o meu vinho na rodada e bebermos todos os que lá
estiverem...
Se não entenderem, posso
até desenhar: eu quero beber o meu vinho e, se o meu vinho acabar, levanto e
vou embora, ou abro uma cerveja bem gelada, quem sabe até peça um Frei Damião branco/suave,
com uma ou duas pedras de gelo dentro, pois o gosto é meu, o dinheiro é meu e
eu bebo o que eu quiser e, como quiser.
Chega
de enochatos!
(A
idade me fez perceber que: As pessoas mais caras são aquelas com quem a gente
pode tomar o vinho mais barato e falar sobre qualquer assunto).
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