quinta-feira, 8 de agosto de 2019


GRITO INESPERADO

                                                                                                         Krretta

        É sempre como dizem, ou seja, se contar ninguém acredita.
        Mas é verdade, ao menos foi o que me contaram...
        Haverá quem duvide, contudo, outros tantos afirmam que o fato aconteceu mesmo.
        Pois não é que tinha aqui na Paróquia de Encruzilhada do Sul, há algum tempo atrás, um padre que gostava muito de qualquer comida que fosse oriunda de caça?
        Nosso município sempre foi privilegiado na questão de flora e fauna, e, por isso vale dizer que, sabendo usar não vai faltar, é o velho e sábio ditado.
        Verdade seja dita, em alguns anos houve um certo abuso na questão da caça e, graças ao apelo a consciência de cada um, houve um certo arrefecimento no abate de animais silvestres, onde a fauna respondeu de pronto, dando-nos novamente a certeza da abundância da vida nativa.
        Em tudo o que se faça, se houver moderação, nunca vamos prejudicar ao meio ambiente, essa é a verdade e a certeza, e, se observarmos aí as espécies em extinção, poderemos recuperar a flora e a fauna, tranquilamente.
        Basta querer.
        Eu sou um adepto incondicional da preservação da espécie animal, mesmo porque eles (os animais) não conseguem fazer leis e nem criar decretos para a sua proteção.
        Tudo o que for esporte, como lazer e distração, é compreensível e em nada haverá de prejudicar a natureza.
        Mas o padre, que provavelmente também era adepto à natureza e, não estava incluso nas depredações do meio-ambiente, também gostava de um prato a base de caça nativa, com moderação.
        A paca é um mamífero roedor, de pelagem castanha e malhas claras, de cauda reduzida, e de comprimento em torno de 70 cm, e é muito comum em quase todo o Brasil e América do Sul, tendo a carne muito apreciada.
        Pois o padre da nossa paróquia se lambia por uma paca.
        Era o seu prato preferido no que se referia a culinária de caça nativa, ainda mais com um vinho, exemplar da cidade serrana de Bento Gonçalves-RS, e de garrafão.
        Uma verdadeira iguaria.
        Pois de uma feita, uma certa comunidade queria que o padre fosse lá para rezar uma missa, já que aqueles “cordeiros” estavam há muito tempo desamparados.
        O padre, sabendo que a região era de muitas pacas, condicionou/sugeriu a sua ida, a um almoço com paca e um vinho de garrafão.
        Sem problemas, os líderes da comunidade fecharam na hora o evento.
        Veio o dia, imaginando o manjar dos deuses o padre se dirigiu para aquela gente e, chegando lá, não viu nenhum movimento de paca carneada ou qualquer coisa que fosse parecido.
- Ué, minha gente, e a paquinha, tá em gaiola?
- Fica tranquilo padre, ela tá cevada e o mundéu tá armado.
- Depois do confessionário e da missa, a paca vai estar à mesa.
- Deixa prá nós...
        Então, o padre se paramentou todo e foi praticar o seu ofício.
        Colheu os pecados de toda aquela gente, oficiou a missa, e na hora da comunhão, quando um silencio sepulcral se fazia sentir e, quando alcançava a hóstia para uma senhora de renome na comunidade, esposa de um grande líder daquele local, ouve-se um estampido seco: PÁHH!!
        Reflexo imediato, com um enorme sorriso no rosto e num impulso repentino, ainda com o braço esticado para a tal da senhora e com a hóstia na mão, o padre gritou bem alto:
- Toma, puta de merda!!

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