BOM DE
CORDA!
Krretta
Naquela
época, os rodeios na vizinha e pujante cidade de Dom Feliciano, eram
verdadeiras festanças.
Confesso
que estou muito desatualizado das festividades campeiras, de agora, por lá.
Mas,
naqueles idos anos eram muito famosos e, lembro: se deslocavam verdadeiras
caravanas daqui e de todas as cidades circunvizinhas.
Pois
a história que passo a contar se deu por aqueles pagos e, justamente naqueles
tempos, com plateias recheadas de famílias inteiras acampadas a beira da pista
e, na escuta atenta ao narrador do rodeio.
Dia
desses, inclusive, li por aí que uma menina foi consagrada através de curso
junto ao MTG, com a habilidade para narradora de rodeios e que desenvolvia
muito bem o seu ofício, mas que ainda o machismo dentro do gauchismo é uma
coisa muito presente e, portanto, dão-lhe poucas chances...
São
problemas, ou melhor, são princípios que ainda precisam ser trabalhados, para
que também as nossas tradições evoluam ao tempo de agora, adaptando as suas
regras à nossa sociedade e, mantendo, com toda a certeza, intactas as
tradições, sem ferir a sua linda história.
Sabem
todos que narrador de rodeio é algo que exige conhecimentos, responsabilidade, rapidez
de raciocínio, bom humor e, além de tudo isso, muito boa dicção, caso contrário
a festa fica capenga.
É
ele quem anima os espectadores, é ele quem dirige o espetáculo, é ele quem
conduz os trabalhos e deve ser célere para não prejudicar o bom andamento do
rodeio.
Não
é pouca coisa não.
Inclua-se
aí, ter calma e ser polido.
Nunca
falta um “cuscuio”, por uma porta aberta na hora errada, por o ginete não estar
pronto, o laço estar enredado, e tantas outras adversidades que, só quem esteve
na lida sabe bem como é.
É
bem verdade que, enquanto os outros se divertem, o narrador trabalha, e como
trabalha.
Além
de tudo, ainda tem os patrocinadores, que volta e meia reclamam que não estão
sendo citados, que o concorrente está levando vantagens, que precisa falar
assim assado, etc., etc., etc.
Mas
tchê, então o rodeio corria solto, saída de verão, sol forte e muita, mas muita
poeira na pista, suador correndo pela espinha, camisa já amarelada e molhada,
testa pingando, chapéu preto e de feltro...
Mas
a festa não podia parar, era preciso chegar ao seu fim, naquela tarde
ensolarada de sol ardente, depois um bom banho, um chimarrão na sombra do
acampamento e, é claro, não sejamos tão certinhos assim, uma boa cervejinha
gelada, no anoitecer.
Era
sábado e o baile, com toda a certeza, ia estar lotado.
Eis
que, então, o narrador chama o próximo ginete para cumprir o seu tiro de laço:
- Bueno gurizada medonha, vamo tocando
o rodeio, não vamo deixar à tardinha nos pegar na pista, quem ainda não se
aprontou vá se aprontando, vão se providenciando, precisamo agilizar, e eu
conto com a colaboração de vocês...!!!
- Chega prá diante, Seu Neto, a
porteira é sua, a cancha é sua, não se acanhe, aqui todo o mundo é de casa,
peça porta e já lhe damo, peça porta é já lhe entregamo a rês, tudo com o
senhor, o senhor é quem manda, o senhor é quem pede, o senhor é quem diz e nós
obedecemo...!!!!
- Bueno, aí se foram!!! Aí está o Seu
Neto em sua colorada muito boa de estado, trabalhando na pista para esticar a
sua corda...!
- Não deixa escapar Seu Neto, chegue
junto...chegue junto seu Neto!!
- A vaca é ligeira, é muito arisca,
corredeira que nem veado, muito boa de guampa e o senhor também é... quer
dizer...BOM DE CORDA...que lhe falo sem frescura!!!
E
a risada foi geral e por muito tempo, assunto de todo o resto do rodeio...
Assim
me contaram.