MEUS OLHOS AZUIS
Krretta
hcarretta@yahoo.com.br
Nunca estamos preparados para tudo.
Por mais que se queira, por mais que se tente, por mais que se treine, a vida sempre está acima de toda e qualquer possibilidade prevista, com suas nuances, e, em determinados momentos, de nada adianta planejar com antecedência quando a emoção toma conta de tudo e de todos.
Não poderia ser diferente e, cheguei a pensar que sim, que teria forças suficientes para mais uma despedida, não tive.
São tantos os pensamentos, as lembranças, as saudades, mesmo neste exíguo tempo em que nos afastamos, mas sabe-se que esta distância é definitiva, e, este sarcasmo de nossas existências requer mais do que simplesmente chorar, sabe-se.
Agora, o que nos resta é um duplo vazio, um sentimento de perda, a dor pungente da ausência, muito embora a frágil distância, mesmo que partiram em busca de seus destinos, das suas realizações, da vida que as espera, mas a inexistência da substância física contrai a alma e entristece a vida.
Temos um olhar perdido, marejado de lágrimas que não suportaram ver o horizonte absorver em si, agora, a nossa Mariana, seus lindos olhos azuis, com sua beleza encantadora, sua intensa luz, sua sensibilidade, presteza, companheirismo e presença forte pela personalidade em seus conceitos e definições.
Consenti em escapar das mãos aquele abraço terno, o que mais poderia fazer?
A vida é assim.
A concepção não nos traz uma receita básica de como temos que fazer no dia em que nossos filhos vão em busca dos seus ideais.
Nada tem a sua forma e seu roteiro.
Mesmo porque nunca viveríamos este tempo de muito mais felicidade nos treinando para a separação dos filhos.
Sei que tudo tem a sua justificativa, entendo que assim está escrito nos anais de todas as histórias filiais, que o mundo as espera, e, tudo tem o seu seguimento normal, contudo, nada resta por enquanto de consolo neste vazio que restou.
Somos humanos, temos sentimentos.
A cura deveria estar na compreensão da vida, o que o amor dos pais ignora e teima insistentemente em se sobrepor ao curso normal dos acontecimentos.
Dói o coração, angustia-se a alma.
Não somos perfeitos e nem temos a compreensão de tudo.
Aliás, deixamos talvez de interpretar a vida simplesmente como ela é e, estranhamente buscamos sentimentos outros que julgamos dar sentido ao que percebemos desta existência.
Em síntese, sabemos que vai acontecer, no entanto, nada nos consola, nada nos conforta viver longe dos filhos.
Também é verdade que nada há a fazer.
Estamos sozinhos.
Na casa, agora, há dois quartos vazios.
As lágrimas teimam em rolar pelo rosto, tenho saudades das minhas filhas, mas nada mais eu posso fazer a não ser incentivá-las a buscar seus espaços, realizar os seus sonhos, encontrar neste tempo as suas próprias vidas, mas tenho saudades.
Sei que vamos sobreviver, com toda a certeza, mas dói demais.
O tempo será sempre companheiro da angústia, da ausência, da dor da separação e, num mesmo momento, dar-se-á o significado dos reencontros.
É o que resta.
Os reencontros e, deles, faremos a nossa recomposição, o consolo da alma, o regozijo do coração, enxugaremos as lágrimas, daremos longos abraços, abraços apertados, beijos emocionados, colo se for preciso, embalaremos e vigiaremos o sono se for o caso, como dantes o que sempre foi, e, logo então, a inexorável realidade e, novamente, teremos que nos preparar para outras tantas despedidas.
É a vida, não tão bonita assim...
Aos meus olhos azuis, todo o sucesso do mundo!
Estamos com saudades.
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