MEU AMIGO NÃO VEIO
Krretta
O ano era 2014, um momento difícil havia deliberado
estar junto comigo.
Vivia uma experiência totalmente nova, daquelas que a gente
acha que só acontece com os outros, e que muitos, assim como eu, preferem o
silêncio e a introspecção.
Ter na mente que o fardo nunca vai ser colocado nas
suas costas com o peso maior do que você possa suportar, nestas circunstância,
é um grande lenitivo.
Preferi o recolhimento, ao invés da compaixão alheia,
por diversos motivos.
E, neste turbilhão de dores e sentimentos, em frente a
lareira da sala da minha casa, recebi uma postagem de um grande amigo meu que
fazia mais de 30 anos que não mantinha contato.
As redes sociais são incríveis nessas coisas.
Osni Antônio Uber.
Um dos professores mais bem conceituados de Bagé, com
um vasto currículo em prol da educação daquela região.
Foi um dos meus grandes amigo naquela que podemos
chamar a fase áurea da vida, ou seja, as nossas agitadas juventudes.
Conheci-o no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em
Bagé, colégio este da ordem dos Padres Salesianos, onde chegava como noviço, ou
seja, estava dando início a sua carreira religiosa, contudo estava longe de ser
ordenado.
Natural de Timbó-SC, carregava no sotaque alemão, mas
um doce de pessoa: gentil, educado, solícito e que logo conquistou a todos nós,
principalmente pela sua simplicidade, já que vinha de uma família humilde e,
que, sem condições econômicas foi encaminhado para a ordem religiosa, como uma
maneira de ter o seu sustento e ainda poder estudar.
Inteligente, trabalhava no colégio de dia e, de noite
enfrentava a sua primeira faculdade, Pedagogia.
Aos fins-de-semana, o Osni ficava como que num
internato, dentro do colégio fazendo os seus plantões, seu ofício para pagar a
sua estadia, alimentação e ganhar o seu salário.
Certo dia pedi para a Dona Iolanda permissão para
convidar o Osni para almoçar conosco e, assim, livrá-lo daquela solidão, que
por certo deveria sentir, ainda mais longe dos pais, da família...sempre me foi
grato.
Logo, logo, passou a lecionar no próprio colégio, e o
fato curiosos que, quando precisava se ausentar para algum trabalho ou alguma
viagem, o substituto dele era eu.
Seu progresso era notável, pela sua inteligência, pela
sua competência e por sua força de vontade.
Osni Antônio Uber, um grande amigo que na noite daquele
mês de inverno e solidão, me encontrou pelas redes sociais na sala da minha
casa.
Conversamos por bem mais de duas horas, relembramos
nossas peripécias, os almoços nos domingos lá em casa, a vida que viveu, seu
casamento, seus filhos, a separação, sua vida profissional intensa e de muita
competência.
Meu amigo Osni me falou que estava se aposentando e que
ia voltar para a sua terra natal, onde ergueria numa das belas praias
catarinenses o seu grande sonho: uma casa.
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Carrettinha (este é o meu apelido por lá), quero paz, muita paz !
Então, combinamos que na ida dele para Santa Catarina,
ela passaria aqui em Encruzilhada do Sul para me visitar e ficar aqui comigo
uns três ou quatro dias, para podermos relembrar e celebrar a nossa amizade.
Depois desse dia as redes sociais
silenciaram, seu telefone ficou mudo, seus amigos de Bagé perderam também o
contato, e eu procurei-o insistentemente, afinal de contas ele me devia uma
visita.
No Facebook deixou uma mensagem, que
estava recluso e em total silêncio para escrever suas memórias, um livro.
Cada qual sabe e escolhe a sua história
frente aos seus desalentos e dissabores, mas seu silencio tinha uma razão, o
seu encontro proposital nas redes sociais comigo tinha um pretexto, estava
doente e despedia-se da vida, despedia-se de mim.
Escolheu o silêncio para dizer adeus.
Meu
amigo morreu.
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