quinta-feira, 30 de maio de 2019


CALÇA LEE

                                                                                                                      Krretta


         Nesga - “pequena porção de qualquer espaço”, isso é o que nos diz o dicionário da língua portuguesa.
         A grande maioria dos jovens de hoje nem imaginam o que isso significou lá no tempo da “jovem guarda”, digamos assim.
         Os anos eram sessenta, início de setenta.
         Nos toca-discos vibravam Beatles e seu rock incandescente, Bob Dylan e o seu violão incrível, Jimi Hendrix junto de seu blues-rock, os endiabrados e subversivos Rolling Stones e, por aqui todo o dia era dia de Golden Boys, Renato e seus Blue Caps, Os Incríveis...
         O casaco e a calça de couro da era Elvis Presley cedia espaço para a jaqueta e a calça jeans, tendo como seu maior representante James Dean, o sedutor rebelde das telas do cinema.
         Nas ruas, a Lambretta ou Vespa, como queiram, assistiam aos carros envenenados tomarem conta da área, com som incrementado, direção esporte e rodas largas, transitando com as “eternas gatas” do pedaço.
         A “Princesinha do Mar” ditava a moda para todo o Brasil, inspirada nos não menos famosos Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.
         Simples e rebelde era dizer:” Só quero que você me aqueça neste inverno e que tudo mais, vá prá o inferno!!!
         Lembram das reuniões-dançantes?
         Sábado era dia delas, e de separar os LPs, o toca-discos, e ir à casa de uma amiga ou conhecida, pois sempre o “dancing” era na garagem da casa de uma menina (raramente a festa rolava na casa de um guri, pois que era mais difícil as mães deixarem as gurias irem, com certeza).
         DJs eram muitos e, lá pelo meio da festa, era obrigatório uma sessão de músicas para dançar de rosto colado.
         E as mães ficavam “trocando orelhas”...
         Vivia-se uma verdadeira revolução cultural, mas que muitos não admitiam, ou não admitem até hoje, mas era a juventude tomando o seu espaço, quer quisessem ou não.
         Aqui não estamos falando de política, longe disso, mas sim de um novo jeito de viver, de interpretar o tempo, e também de manifestar o jeito e a maneira de querer o mundo.
         Um jeito  moderno, psicodélico, colorido e extravagante de ser.
         Éramos apenas uns garotos que amavam os Beatles e os Rolling Stones...
         Não acredito no conceito de rebeldia, mas de uma revolução cultural, comandada por jovens que queriam mostrar a cara e suas atitudes, diferentemente e muito longe da omissão e das coisas prontas.
         O Brasil era efervescente.
         Nós estávamos lá, e vivemos aqueles momentos lindos.
         Depuramos e separamos o joio do trigo, e cá estamos sem nenhuma cicatriz, vez ou outra um sem importância de arranhão.
         Tudo isso para falar da calça jeans com nesga e boca-de-sino.
Era o xodó da época e só valia, lá pelas minhas bandas, se fosse calça Lee importada (... “pegue a sua jaqueta Lee, a sua moto envenenada e vá embora daqui”... -Renato e seus Blue Caps).
“Importávamos” da fronteira com o Uruguai o artigo, e, da outra calça Lee que tinha ficado velha e não servia mais, era matéria prima para a nesga a ser colocado na nova.
No sábado lá estava ela sendo exibida com muito orgulho, presa a cintura por um cinto calhambeque e as botinhas do Tremendão, garantia de muito sucesso.
         Com certeza era o máximo: calça Lee de um índigo muito lindo, com uma nesga desbotada e boca-de-sino... nada podia ser melhor, a não ser a namoradinha nas reuniões dançantes, de rosto colado ouvindo e dançando Pingos de Amor...”vamos ser, outra vez nós dois, vai chover pingos de amor...”
- Valeu playboy, paz e amor!

Nenhum comentário: