Leia não para contradizer nem para acreditar, mas para ponderar e considerar. Francis Bacon – filósofo inglês
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
DESFILE DA MOCIDADE
Krretta
hcarretta@yahoo.com.br
Era final dos anos 70.
Havia pouco chegava em Encruzilhada do Sul para ficar.
Como iniciante nos pagos da Serra do Sudeste, pouco ou quase nada sabia dos usos e costumes da terra.
Guardava comigo lembranças muitos felizes do tempo de juventude na minha cidade natal, Bagé, do meu saudoso Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, todavia, chegara a hora de batalhar pela vida.
Tornava-me um profissional do ramo creditício e, para tanto, foi preciso deixar estas lembranças guardadas no coração e na alma e, partir para o lado mais sério da vida, ou seja, enfrentar o mundo do mercado, do trabalho, de outras conquistas e realizações.
Os meses foram se consumindo ao longo da estrada, a adaptação foi ficando mais fácil, o tempo de permanência era certo, então, nada mais a lamentar, somente ir em frente, na busca da satisfação e do entendimento desta etapa da vida, a profissão, os colegas, a cidade, seu povo.
Era o tempo encaixando-se na vida, com seus minutos e horas fluindo a cata da harmonia.
Ficaram, também as recordações e, dentre elas, a de um dia ensolarado, de uma claridade vibrante, que tinha o céu de um intenso azul de causar inveja.
O vento soprava calmo.
Podíamos crer que a primavera estava presente.
Existia felicidade no ar.
A alegria, o encantamento, a satisfação de vivenciar aqueles tempos era motivo para congraçamento e, ele ocorreria na parte da tarde, com toda certeza.
As ruas do centro já estavam interditadas.
Rua XV de Novembro, Praça Silvestre Corrêa, Praça Ozi Teixeira e Avenida Rio Branco, esquina do Meu Cantinho.
Era o dia 7 de Setembro.
Havia burburinho nas escolas, as professoras prepararam seus alunos para uma apresentação na passarela da cidadania, uma festa de civismo e demonstração de respeito e amor pela Pátria, nada além disso.
Nossos símbolos nacionais tinham mais vida na vida das pessoas.
Brilhavam mais, tal qual o brilho deste dia.
Então, nossos estudantes começavam a encaminharem-se para os seus educandários, já perfeitamente paramentados, envergando o uniforme garbosamente, com orgulho e satisfação de representar sua entidade escolar, acertadamente.
O público postava-se ao longo do trecho citado, esperando o Desfile da Mocidade.
Era lindo de ver.
As bandas já haviam ensaiado durante dias exaustivos e, a responsabilidade de carregar uma escola inteira fazia com que o assunto se tornasse sério, mesmo porque tratava-se de uma apresentação oficial, agora uniformizada, de gala.
Todos participavam, alunos e comunidade.
Quem não tinha filhos desfilando, tinha netos, quem não tinha netos tinha sobrinhos, quem não tinha sobrinhos, tinha conhecidos e, assim por diante.
Tudo era uma linda festa.
O colorido, a alegria, o dia, o sol, o céu.
As escolas apresentavam temas, traziam figuras nacionais representadas por alunos estilizados, falavam do esporte, de um fato de relevância na história do Brasil, contavam causos, enfim, comunicavam-se através dos estudantes na parada cívica.
Alguém já tinha falado de como eram belas as meninas com suas saias azul-marinho plissadas, esvoaçantes pelo vento da primavera, camisas brancas representativas impecáveis e um belo tope no pescoço?
Pois tudo acabou.
Confundiram os sentimentos.
Entenderam que a classe política desmereceu nossos símbolos nacionais, tantas as falcatruas, tantos os desmandos, tantas as infâmias, que, acabaram-se as festas de civismo e amor aos símbolos nacionais, erroneamente.
O tempo foi passando, os desfiles definhando, o entusiasmo arrefecendo e...
... tudo virou uma triste reunião ao fim da tarde do dia 7 de Setembro, na praça Ozi Teixeira, triste, vazia, obscura, sem a presença da juventude, sem o garbo e o entusiasmo dos alunos, sem a participação dos educandários, suas bandas, o ar cheio de música, o sol brilhante e o céu azul.
Tudo passou, minha vida profissional e os Desfiles da Mocidade de Encruzilhada do Sul.
Que pena!
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