quarta-feira, 13 de abril de 2011

POR QUÊ?

Krretta
hcarretta@yahoo.com.br


Esta é uma pergunta que vai ficar no ar por muitos e muitos anos.
O assunto deste espaço não era esse, contudo, não tem como ficar indiferente, aliás, é por muitas indiferenças que talvez estejamos falhando, e, hoje, nos sentindo um tanto quanto culpados.
Estou em frente ao meu computador e, minhas mãos estão estáticas, nada se mexe, não tomo nenhuma atitude, e, não consigo pensar em outra coisa, a não ser tomar o rumo das palavras e, sem rodeios, abordar o assunto.
Ainda não consegui assimilar o golpe.
O fato é recente, hoje é sábado, são dezenove horas e, vocês vão ler a coluna somente na quarta-feira, quando buscarem o “19” nas bancas ou receberem em suas casas, o que até lá, espero, o espanto, a perplexidade, o sobressalto já tenham amenizado, o que para as famílias atingidas isto será impossível.
A tragédia de Realengo, Rio de Janeiro.
Confesso a vocês que não tenho um conceito formado, uma resposta plausível, uma frase elaborada e verdadeira para tentar, eu disse tentar, entender o fato.
A minha incapacidade de chegar a um bom termo me deixa aflito.
Por quê?
Tantas outras coisas para falar, para comentar, para interpretar, no entanto, estou aqui buscando explicações em resposta ao fato insólito e inabitual na rotina de nós brasileiros.
É imensa a distância que nos separa até digerir a dor, imaginem, então, quem está vivenciando-a no seio familiar?
A pergunta, ou melhor, as perguntas sem respostas são tantas, que estamos, eu e, tenho certeza que vocês também, atônitos a cata de explicações.
Fanatismo religioso, castidade, falta de segurança, a violência diária como exemplo, o desprezo pela vida, a banalidade da existência, o que, afinal?
Surgem aos borbotões as mais diversas opiniões, mas, a verdadeira, jamais saberemos.
Até se pode tentar entender, buscar na ciência a interpretação aproximada da execução do ato, isto pode, contudo, a justificativa, a comprovação cabal da ação, em tempo nenhum será esclarecida.
Confesso que escrevo esta coluna, bastante emocionado.
Tenho os olhos marejados a cada instante em que me lembro do rosto daquelas meninas e, dos dois meninos mortos na tragédia de Realengo, cheios de sonhos, de planos, transbordando alegria e jovialidade em seus tenros 13/15 anos, no momento em que a vida lhes deixava transparecer o quanto poderia ser boa.
As lágrimas nada mais são do que a consciência de que também sou pai, tenho duas filhas e, elas tiveram essa idade, por conseguinte, qualquer tragédia com quaisquer outros filhos, de outros pais, de outras mães, desencadeia este fenômeno de proteção paterna, e, que nos afeta fortemente.
Estamos todos no mesmo barco, o barco da tristeza, da melancolia, do pesar, também do sobressalto, do susto, da incredulidade, eu, vocês, e, principalmente os que estão acostumados a lidar com tragédias, como médicos, jornalistas, policiais, entre tantos outros profissionais.
Oxalá, este fato insólito se perpetue insólito.
Nós, brasileiros, não temos esta índole, somos da terra do samba e do futebol, da alegria, do carnaval, somos de bem com a vida, apesar de muitos pesares, então, que nada mais aconteça, que nada mais seja copiado, que nada instigue a violência insana e descabida, e, que os porquês se encontrem em gestos responsáveis pela construção de um mundo menos violento.

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