sexta-feira, 17 de abril de 2020


BETÓPOLIS E A PANDEMIA

                                                           Krretta

Betópolis, se é que vocês já não saibam, é a cidade onde eu sou Prefeito.
A minha cidade, de um povo humilde e trabalhador, valorosa e honrada.
Assim nós a construímos, eu e minha equipe, sempre no intuito de dar ao povo dignidade e uma vida aprazível, dentro das nossas possibilidades, é claro.
Por exemplo, agora, estamos vivendo (como o mundo inteiro) um período crítico da nossa história, onde a Covid-19, ou o coronavírus, está espalhando doença e morte por todos os lados.
Aqui em Betópolis, junto com o Secretário da Saúde, da Fazenda, Administração e Logística, mais as lideranças comunitárias, clubes assistenciais e entidade de classe, criamos o Comitê de Emergência.
Convocamos a imprensa para serem nossos porta-voz, mostrando a importância que eles têm neste processo, conquanto as informações não sejam sensacionalistas e, mais do que nunca, transmitam apenas a verdade.
O momento é muito sério e exige não só seriedade, mas atenção e competência para encaminhar e administrar este doloroso processo.
Sim, vai passar, mas coerentemente digo aos meus assessores que não sabemos quando (?) e, portanto, temos que viver e decidir dia após dia.
 Despacito, como dizem nossos vizinhos castelhanos.
Pedi, democrática e encarecidamente ao Comitê de Emergência, que o Boletim Diário de Informações (o BDI) sobre o andamento desta epidemia, em nosso município, seja divulgado por mim, para que não haja nenhuma divergência ou má interpretação.
Assim, os dados me são passados e eu compilo-os e, de próprio punho transmito aos meus munícipes, sem alardes ou falsas perspectivas.
Aqui em Betópolis o jogo é limpo, claro e autêntico.
Quanto a abertura do comércio ou não, nossos trabalhadores informais, grupo de risco e toda a gama de profissionais existentes, tomamos a decisão de que é preciso cuidados, mas também é preciso que a economia siga o seu curso, muito embora longe do normal.
Então, em comum acordo e discutido no Comitê de Emergência, deliberamos que:
1- as pessoas do grupo de risco que podem ficar em isolamento social, aconselhamos que fiquem;
2- os empresários que querem abrir seus empreendimentos, desde que sigam as normas (de total segurança para o cliente e para o empregado) estabelecidas em decreto, após debate pelo Comitê de Emergência, estão autorizados a darem seguimento às suas pretensões;
3- aos profissionais liberais e da informalidade que consideram a volta ao trabalho de suma importância para a sua subsistência e, tal qual o item acima, utilizem as precauções citadas em decreto, também estão aptas a voltarem as suas atividades normais.
Aqui em Betópolis, primamos pela simplicidade, pelo coletivo e pela discussão democrática de nossos problemas.
Todos os envolvidos estão representados nas mesas de debates e, a palavra está assegurada também a todos.
Além disso, solicitamos empenhadamente que nossos munícipes usem máscaras e que os estabelecimentos que abrirem as suas portas, ofereçam o álcool gel a todos os seus clientes e empregados.
Por falar em máscaras, estamos providenciando junto a Secretaria de Ação Social que se empenhe ao máximo em confecções destes equipamentos imprescindíveis, para a distribuição gratuita aos menos favorecidos, ao tempo que já destinei verba para tal fim.
Ainda ontem, solicitei ao Presidente da Câmara de Vereadores que, na medida das suas possibilidades, façam uma campanha de doação de cestas básicas, material de higiene e vestuário (logo aí estará o frio), em conjunto com os Clubes de Serviço, pois que é deste povo que também vem o voto, mas, agora, é eles que estão necessitando.
Tenho muito para conversar com vocês sobre Betópolis, tenho muito para contar, tenho muito a dizer dos nossos planos, das nossas metas, da vontade que temos de trabalhar sempre em prol do nosso povo, sem mesquinharias e interesses escusos.
Betópolis é a nossa menina dos olhos...
Como ajuda do Prefeito, de seus Secretários, CCs e FGs, neste momento de tal magnitude, determinei redução de salário em 50% dos meus vencimentos, do Vice e dos vencimentos dos Secretários, 30% dos CCs e 20% dos FGs, por três meses, extensivo por mais três, caso houver ainda necessidade de uma assistência maior ao povo de Betópolis.
Sugeri ao Presidente da Câmara de Vereadores o mesmo.
Como Prefeito de Betópolis, quero recomendar a todos muita serenidade e discernimento em suas ações e atitudes, incluam em suas vidas muita solidariedade também, e, fiquem tranquilos que estamos fazendo de tudo para que vençamos esta situação com coragem, paz e saúde.
Grande abraço.
Beto.






segunda-feira, 13 de abril de 2020


EQUILÍBRIO

                                                                                    Krretta

        É bem verdade que este vírus não discrimina ninguém e, ataca sem dó e nem piedade todas as classes sociais, todas as raças, credos e continentes.
        Nenhuma distinção.
        Este contágio apavora a todos, principalmente as autoridades da saúde, que são os responsáveis para dar guarida aos infectados, mas que pode levar ao colapso a rede hospitalar, se não houver um controle rígido e sistemático, com a colaboração de toda a sociedade.
        Combate-se, essencialmente, a velocidade da infecção, pois, não é nenhuma novidade que a grande maioria das pessoas irão contrair o vírus.
        E, aqui, começa toda a polêmica, infelizmente.
        Além da busca de vacinas e remédios contra o coronavírus, naturalmente, uma das medidas necessárias é atrasar o contágio nas pessoas, para não haver uma superlotação dos hospitais, mas para isso a “#fiqueemcasa” é muito verdadeira.
        Usemos de bom senso.
        Fica em casa quem pode, é claro, pois existe uma outra parte das pessoas que necessitam buscar o seu sustento, seja na informalidade ou não, nas ruas ou empresas, que, por sua vez, precisam voltar a funcionar.
        Está criado o debate e as discussões.
        Fique em casa...não, não fique em casa, volte ao trabalho...
        Contaminação X salvar a economia, o que fazer?
        Isolamento vertical ou isolamento horizontal?
        Afinal de contas, com quem está a razão?
        A verdade é que já não conseguimos mais ter respostas razoáveis, a verdade é que não são só as autoridades...a verdade é que estamos todos nós perdidos e sem saber o que fazer.
        Tudo descambou para as inflamadas polêmicas e acirradas discussões, que nem perto chegam de um entendimento ou de uma solução.
        Enquanto isso, a pandemia, totalmente alheia e intocável, segue a sua funesta trajetória.
        Maldita grenalização.
        Não é verdade que quem está pregando o isolamento social são as pessoas que pertencem a classes mais privilegiadas, que moram em apartamentos confortáveis, que possuem reservais financeiras e estabilidade no emprego.
        Falemos a verdade: quem está aconselhando, vejam bem, aconselhando, é a OMS e as autoridades médicas e, principalmente são os exemplos de outros países que viveram dias muito difíceis.
        Assim como é muito verdade que pessoas precisam voltar ao trabalho, principalmente quem atua na informalidade ou é empregado que depende do funcionamento da empresa para o seu sustento e da sua família.
        Sim, estes precisam voltar à vida normal, sob pena de enfrentarem, além do vírus, principalmente a fome.
Inclua-se neste rol, os empresários que precisam voltar a produzir e fazer a economia girar, pois existem investimentos que necessitam serem pagos.
        A favor ou contra, esquerda ou direita, bolha ou sociopata... acreditem, isso não vai colaborar em nada para a descoberta do antídoto contra o vírus.
Coerência.
Caminhamos para dias muito difíceis e, estamos desperdiçando energia sem nenhuma necessidade.
Existem dificuldades, muitas dificuldades para todos nós, isto está muito claro.
Lembram-se, o vírus não discrimina ninguém, todos somos alvos em potencial.
Muito triste é ver um país dividido, polarizado, numa hora tão triste como essa, onde milhares de seres humanos estão morrendo todos os dias.
Bom senso.
Sinceramente, envergonhemo-nos em não conseguirmos nos unir neste momento, tempo esse que exige solidariedade, humildade, amor nos corações.
     Não existe nem A e nem B, existe sim um todo, que precisa estar coeso e, mais do que nunca, equilíbrio em nossos pensamentos e atitudes.
Há uma sutil diferença entre o que você faz e o que você pode fazer.
Mark H McCormack


       


CHEIRO DE VÓ

                                                                                                               Krretta

         Nestes dias de quarentena, de algumas reflexões e muitas lembranças, nos dão a dimensão de que realmente o tempo é impiedoso na sua trajetória.
         Verdadeiramente, o tempo não para, mas, nos dá a chance de lembrarmos das boas saudades.
Quantos, assim como eu e, por esses dias, estão sentindo estas saudades?
         Estamos vivendo um tempo (reclusos) em que estas recordações ficam mais latentes, e nos remetem com muita felicidade ao passado.
         Viajar nestas lembranças fazem com que nos sintamos mais próximos das pessoas queridas que já habitam outras esferas, outros mundos, mas, mesmo assim, por longos e alegres momentos estão junto conosco.
         Tenho especial carinho por estes pequenos encontros.
         É o que nos resta enquanto não temos a dimensão de tudo o que ocorre a nossa volta, ou, por outra, estamos com medo.
         “A morte não é a nossa perda maior. Nossa perda maior é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.” - Norman Cousins – jornalista
         Por isso é que convivemos mais alegremente entre estas maravilhosas recordações, porque sentimos que nos fazem bem.
         Nos fazem ter a certeza de que, embora as dificuldades que passamos, tivemos momentos intensos e felizes junto de nossas pessoas queridas, estimadas e veneradas, lá na nossa infância.
         Todas estas reminiscências são lenitivos para a alma e o coração.
         Traz calma, ternura, amor aos nossos dias.
         Somos gratos por isso.
         Principalmente porque tivemos a Casa da Vó.
         A Casa da Vó era uma casa cheia.
         Cheia de amor, cheia de carinho, cheia de afeto, cheia de pessoas alegres e de muita amizade.
         A Casa da Vó tinha galinha no terreiro, tinha horta no quintal, tinha flores nos jardins, a Casa da Vó tinha batata frita na volta do fogão antes do almoço, tinha a novela O Direito de Nascer no rádio valvulado Zenith...
         ...cafuné no colo macio e terno, tinha mesa cheia e muita algazarra, encontro de primos, as “artes” aprontadas, tinha banho de tanque no verão, uma parreira cheia de cachos de uva preta e muito doces, tinha pereira e pessegueiro, e um butiazeiro que certa feita me levou ao hospital depois de comer um cacho inteiro.
         Tinha todos os dias o aroma e o café da tarde, junto com as filhas e os netos, e a caderneta do armazém do seu Orozimbo, para comprar balas e pirulitos...para nós...
         A Casa da Vó tinha uma poltrona grande, de cor de abóbora que era o trono da matriarca, e que num tempo passado foi a casamata e o descanso do vô Marcínio, quando por incontáveis vezes sentei com ele para fazer palavras cruzadas do Correio do Povo.
         Sei lá, mas acho que foi daí que tomei gosto pelas “escritas”...
         A Casa da Vó tinha a Nena, sua irmã solteira e nossa tia-avó, que era a administradora geral daquele refúgio encantado, daquele castelo enfeitiçado pela magia do amor, com sua imensa bondade, sua paciência, seu carinho e sua dedicação a toda a família.
         A caderneta do armazém? Era ela quem liberava! Viva a Nena!
         Que saudade da Neninha.
         A Casa da Vó tinha o seu cheiro.
         Cheiro de Vó.
         Esta peculiaridade ímpar que ficou gravado numa memória distante dos saudosos cheiros da infância.
         Meu pai, o Chico, gostava muito do cheiro das flores de jasmim.
         Costumo dizer que todas as vezes que sinto este cheiro no ar, o seu Carreta está do meu lado; desceu para conversar e me aconselhar...
         Por muitas vezes sinto o cheiro de Vó.
         Na fritura das batatas, nas flores de algum jardim, nas parreiras tomadas pelos cachos de uvas pretas, em um café da tarde, num verão e um tanque cheio...
         A Vó Marieta tinha cheiro de talco, de maçãs e alfazemas, cheiro do perfume do amor, do carinho, a Vó Marieta tinha cheiro da ternura...
         ...tinha o cheiro divino de Deus.




sábado, 4 de abril de 2020


O QUE PODEMOS FAZER?

                                                                                                                                                                                                                   Krretta

            Termos coerência e sermos conscientes.
            Simples assim.
            Mesmo em tempos de tantas incertezas, com um vírus avançando com extrema rapidez pelo mundo afora, pessoas sendo acometidas da doença que, em muitos casos é fatal, e ainda assim, nós brasileiros (sim, nós brasileiros), conseguimos politizar esta calamidade pública.
            Quarentena ou não quarentena, volta ao trabalho pela economia do país, ou não volta ao trabalho, Presidente da República versus imprensa, e, para completar, as redes sociais como uma grande Torre de Babel...
            Onde vamos chegar com isso?
            Com toda a certeza num grande caos, e, pelas nossas próprias mãos, ou voz, como queiram.
            Será que já não estamos no tempo de sermos todos um só povo, unidos contra essa doença que está dizimando países, matando pessoas indistintamente e, que ainda nem chegou ao seu ápice, segundo as nossas autoridades médicas?
            Tudo o que não precisamos neste justo momento é a animosidade entre uns e outros, tudo o que não precisamos neste exato momento é a política sendo o epicentro desta tragédia, tudo o que não precisamos nesta hora calamitosa é discórdias e acusações de ambos os lados, aliás, deveria, isto sim, existir um lado só.
            O lado que deve lutar contra a Covid-19, o lado que deve empreender forças, muitas forças contra o coronavírus, o lado da união e da solidariedade uns com os outros.
            Tal qual como abrimos este texto: coerência e consciência.
            Coerência em nossas atitudes, em fazer o que vai ser bom para todos e para a nação, coerência em saber se é ou não a hora de sairmos às ruas para dar continuidade ao labor e, assim, movimentar a nossa economia que, é bem verdade, não pode parar sob pena de causar outros tantos problemas para o país.
            Consciência em saber das nossas limitações neste momento e, cooperar o mais que pudermos, da melhor maneira possível, com as autoridades médicas e nossos administradores públicos.
 Consciência em admitir que o tempo ainda é curto para cumprirmos a quarentena, para que logo ali adiante nossos hospitais não fiquem superlotados e, assim, não tenham as mínimas condições de atendimento aos mais necessitados.
Vejam que por paradoxal que possa parecer, ambos os lados estão certos, o do sim e o do não, o da “volta ao trabalho”, o do “fique em casa”.
Então, é preciso que haja um equilíbrio entre as partes e, não, uma briga generalizada entre o povo brasileiro, inflamada pela política e pelos políticos, juntando-se a tudo isso, a imprensa.
Sim, é verdade sim...assim como o nosso Presidente não ajuda em nada com suas declarações “abarbaradas”, a imprensa, por conseguinte, não ajuda em nada em inflamar aos contrários e, tudo isso dá-se no campo político, quando deveriam estar demonstrando serenidade e têmpera no trato desta pandemia e, ajudando o lado da saúde pública, verdadeiramente.
Penso que cada um de nós sabe de si.
Eu, por exemplo, sou do grupo de risco, portanto, meu lugar é em casa, principalmente porque estou numa situação que posso assim o fazer, e vou ficar primando neste meu resguardo, pela minha saúde.
Por isso, entendo perfeitamente quem tem que ir à luta, buscar o seu sustento e, tentar que as coisas voltem ao seu curso normal, no entanto, a eles eu teria um pedido formal: cuidem-se ao máximo, tomem as precauções devidas, tenham consciência e coerência em seus atos e no trato com os seus semelhantes, buscando todos os cuidados para não disseminar ainda mais este vírus.
É necessário estabelecer normas sanitárias rígidas, rigorosas, para quem voltar ao trabalho, preservando apuradamente a saúde dos próprios trabalhadores e da comunidade em geral.
Lembrem-se: cuidar do próximo é um investimento na humanidade e no seu convívio.
De que adianta você ser sozinho no mundo?
Viram como é fácil? Portanto, coerência em ficar em casa e consciência na volta ao trabalho.
Harmonia para o bem de todos.