quarta-feira, 7 de novembro de 2018


...CHAMEM O SANCHO PANÇA

                                                                                                      Krretta

         Recentemente tive a felicidade de conhecer um pouco mais da cultura de dois países maravilhosos, em visita que fiz ao Chile e a Argentina.
         Antes, é preciso que se diga que também o Uruguai bebe desta mesma fonte, onde os valores cívicos e o amor para com a pátria estão acima de qualquer coisa, menos de Deus, é claro.
         Pois juntemos todos eles e podemos afirmar com toda a certeza: cada um dos seus habitantes ama incondicionalmente o seu país, lhe dedica veneração, traz consigo respeitabilidade aos valores morais e cívicos.
         É de sentimentos que estamos falando, é de amor à pátria, é de ser fiel e honrar o seu país de que estamos falando, é ter orgulho, conhecer a sua história e amar incondicionalmente a sua terra natal.
         E, quando se está por lá, somos agraciados a cada instante com essas demonstrações, somos brindados a cada minuto por estes exemplos, e a cada instante, a cada minuto, sentimo-nos constrangidos ou envergonhados de ver que no nosso país, esse sentimento morreu há muito tempo, se é que algum dia existiu.
         Sinceramente, eu não queria ser conhecido apenas pelo país do futebol e de Pelé.
         Sim, lá fora somos apenas conhecidos por isso e, agora, agregaram mais um predicado (sic), o país da corrupção.
         ...do dinheiro nas cuecas, em malas e verdadeiras fortunas depositadas em apartamentos...
         E, surpresos, colhidos na decepção e desconforto pelas verdades citadas, dentro da educação que ainda nos resta, somos obrigados a calar diante de tantas verdades que nos são citadas, nua e cruamente.
         A vergonha se compraz justamente onde nossos valores para com a pátria sucumbiram, onde nosso amor pelo Brasil ficou na busca pela justiça social que nunca veio, nas ruas e vielas das favelas, na falta de emprego, nas escolas sem nem mesmo uma carteira para o aluno sentar, que dirá banheiros e merenda escolar, que foram roubadas, pasmem...
         Não honramos a nossa história como eles, não nutrimos esse mesmo sentimento pela pátria como eles, não temos a mesma raça que eles, não somos como eles, que defendem com unhas e dentes o seu país, e, na acepção literal do vocábulo, se dizem “morir por La Pátria”!
         Onde foi que nos perdemos?
         Senti-me diminuído por saber que os meus patrícios não nutrem esses sentimentos pelo nosso país.
         Se você tiver a oportunidade de assistir a troca da guarda no Palácio da Moeda em Santiago do Chile, ou a história do tango em uma casa de espetáculos em Buenos Aires, vai entender perfeitamente do que eu estou falando.
         Eles fazem questão de demonstrar a dedicação ao seu país, transbordam amor pela pátria, veneram a sua história, eles têm raça, têm gana e vontade... vontade de serem uruguaios, chilenos e argentinos.
         Ao fim do espetáculo da história do tango, que assisti em Buenos Aires, quando todos os bailarinos sobem ao palco e interpretam a canção “Não Chores por Mim Argentina”, onde cai do teto uma enorme bandeira azul branca, levando todos as lágrimas... confesso que também chorei, mas chorei de vergonha e de constrangimento por não ter isso no meu país.
         Nossos valores foram rasgados justamente por aqueles que deveriam honrar esses sentimentos.
         Nos perdemos pelos corredores da corrupção, dos desmandos, da patifaria política, infelizmente.
         Que coisa mais linda é passear por estas nações e ver o orgulho que eles têm em expor em todo e qualquer lugar, a bandeira do seu país.
         Ignorando totalmente a mesquinhez e idiotice de alguns, farei como Dom Quixote, contudo, mergulhado na mais pura lucidez e sentimento cívico, pois hastearei brevemente a minha Bandeira do Brasil.
         Para o quinto dos infernos a política e seus idiotas, ineptos e insensíveis, vou voltar a ser brasileiro como eu sempre fui, e não mais me envergonharei de “mis hermanos”.
         Se quiserem chamar o Sancho Pança, fiquem à vontade...
        
        
        


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