Krretta
A Lena tem dito que ando muito saudoso nos temas que tenho abordado em minhas colunas.
Como podem ver, as críticas também partem de casa, e, são sempre apreciadas com tal desvelo tal qual as que chegam da rua, por assim dizer.
Mas, a bem da verdade, não me acho tão saudoso assim, pois apenas trato as coisas que me foram felizes com outros olhos, ou seja, tenho por elas um imenso carinho e, é esse carinho que gosto de dividir com meus leitores e leitoras.
Mas dia desses cheguei em casa e, em cima da mesa da cozinha tinha um potinho, sim, aqueles potinhos que já muito comentamos aqui, e, por curiosidade fui olhar o seu conteúdo, uma vez que tudo que está lá dentro é sempre uma surpresa, mas, desta vez eram apenas pitangas.
Pitangas.
Fazia muito tempo que eu não enxergava uma pitanga, quanto mais colhida e dentro de um potinho.
A pitanga é um fruto da pitangueira, árvore da família das Mirtáceas, que se cria principalmente nas beiras dos rios, mas existem muitas pitangueiras em quintais das cidades, talvez por costume das pessoas mais antigas, talvez...
Também muito usada para compor versos aqui no Sul, quando se trata de exaltar as belezas das mulheres gaúchas, tal qual seus lábio, vermelhos que nem pitanga, que todos querem beijar...
“Tua boca é um monumento de beleza e formosura,
Teus lábios têm a doçura de um esquisito licor...
Néctar macabro do amor com gostito de pitanga
Que a gente lava na sanga para que tenha mais sabor” Dorval Azambuja Arregui-Chinoca.
E é assim, lá estavam às pitangas em cima da mesa, dentro de um potinho, já colhidas e, então me veio na memória as tantas vezes que colhíamos pitangas em quintais de muitas casas, em terrenos baldios, em arvoredos, contudo, com sempre a recomendação: - Guri, não come pitanga quente do sol que vai te fazer mal!
Então, vínhamos para casa com as latas de leite Ninho cheias de pitangas, vermelhas, outras roxas e algumas alaranjadas, porque não estavam bem maduras, e, após lavá-las, uma caneca com água limpa, eram colocadas na geladeira para depois do almoço, de sobremesa.
Talvez a Lena tenha razão nas minhas reminiscências, mas é impossível desmembrar lembranças tão agradáveis e que fazem tanto sentido quando já adquirimos um pouco mais de sabedoria e experiência para dar valor ao que era tão importante e não sabíamos.
As pitangas não eram aconselháveis saboreá-las quente do sol, porque estavam convictos os mais velhos que fazia mal, quem sabe ao estômago ou ao intestino, quem sabe...
Também após comer melancia, era bom colocar uma pitada de sal na boca ou comer uma semente; butiá não podia comer o bagaço; caqui só bem maduro; mata-cavalo não era pimenta; banana verde dava dor de barriga; morango só muito bem lavado; maçã verde até que era bom; era o que tínhamos lá na fronteira mais ao alcance das mãos, já que a pêra quando estava verde era impossível mordê-la, e, também fazia mal.
Laranja e bergamota à vontade, quem conseguisse aguentar na maioria das vezes o azedume.
Resumindo, me parei a rememorar, não coloquei as pitangas para gelar e perdi-as para alguém mais guloso, mas vou ganhar mais.
Convido-os!
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