segunda-feira, 23 de maio de 2011

ÀRVORES, FILHOS E, UM LIVRO

Krretta


O nome popular dela é “Extremosa”.
Já no campo científico se chama “Lagerstroemia indica”, da família das “Lytraceae”, originária da Ásia e da Austrália, e, que muito bem se aclimatou aqui na região Sul do Brasil.
Seu porte é de até 6m de altura, com tronco liso marmorizado de 15 a 20 cm de diâmetro.
Suas principais características são as flores que desabrocham em cachos nas pontas dos ramos, em cores róseas, lilás, carmim ou branca.
Os galhos são fracos e quebradiços e devem ser podados no inverno para estimular e dar bom aspecto à planta.
Floresce no verão a pleno sol e, por ser de pequeno porte, vai bem em jardins pequenos e na ARBORIZAÇÃO URBANA.
Arborização urbana, foi o que eu pensei.
Comprei no ano passado três mudas e, plantei-as na calçada em frente de casa, no intuito de embelezar a nossa Rua Sete de Setembro e, também proporcionar aos mais incautos, uma sombra densa e refrescante no verão, não era uma boa ideia?
Comprei também um saco de areia preta, preparada, com adubo e húmus para que elas, as mudas, tivessem um bom início de vida naquele solo, que agora seria as suas moradas, e, quem as contemplasse, falassem do seu vigor e da sua beleza.
Junto aos seus caules, atei taquaras para que o vento não as castigasse e, num ímpeto mais forte, viesse a quebrá-las, o que seria de minha parte um desleixo não protegê-las.
Medi as distâncias donde ficariam, não tão milimetricamente assim, mas, que fossem dispostas proporcionalmente ao espaço a que lhes competia, e, assim o fiz.
Pá de corte, terra preparada, buracos feitos, e, o plantio própriamente dito.
Uma beleza. Era para ser uma beleza...
Lá estavam, garbosamente as três “extremosas”, lindas, exuberantes, em pé, se bem que apoiadas pelas taquaras e, amarradas, mas, a intenção era das melhores possíveis.
Quer queiram, quer não queiram, são como filhas, é claro que guardadas as devidas proporções, como qualquer outro tipo de ação, seja tangível ou não, pois nascem da nossa vontade, da criação, do ímpeto de concretizar os desejos da concepção, por pensamentos e obras, assim é o que é.
Pois ali em frente postavam-se as três Marias, assim apelidei-as.
Maria Cristina, Maria Beatriz e Maria Dalila.
Devo-lhes confessar de que não sou muito afeito aos tratos com a terra, mas as “Marias” eram uma devoção, pois cabia a mim os seus tratos.
Muitos e muitos dias reguei-as, refiz as amarras, cuidei das formigas, muitas vezes contemplei-as, imaginando-as crescidas, frondosas, cheias de flores embelezando a Rua Sete de Setembro, e, por muitas vezes achei que tinha realmente feito uma boa ação.
É preciso que se diga que um belo dia, ou melhor, um péssimo dia, encontrei Maria Beatriz com seu caule quebrado e, então, de imediato enrolei-a num esparadrapo e, como reforço, enfaixei-a de fita crepe, e não é que deu certo?
Maria Beatriz se recuperou magnificamente bem, e deu seu curso normal ao crescimento, tal qual suas irmãs
Contudo, minha tristeza, meu desencanto, minha desilusão hoje, é que percebi que quebraram pela raiz, os caules de Maria Dalila e Maria Beatriz, e, consumiram-nas.
Elas não existem mais.
Ficou na Rua Sete de Setembro um grande vazio, não virão mais as sombras, e, as flores róseas na primavera, não enfeitarão a retina dos transeuntes daquele passeio, e, os mais incautos, jamais se beneficiarão das suas espessas sombras.
O que leva uma mão a extirpar a vida, mesmo vegetal, da terra?
Vivemos um tempo em que talvez os prazeres residam nas intempestivas reações bestiais dos homens, que desconhecem a si próprios.
Ceifaram as “Marias”!

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