quarta-feira, 28 de julho de 2010

DOCES QUANDO CRIANÇA

Krretta
hcarretta@yahoo.com.br


Dia desses em que divagar faz parte das horas que formam o tempo e, que corre lá fora sem testemunhar nossas saudosas prosas, falávamos em doces destes campeiros ou, até mesmo da cidade, mas que habitavam nosso mundo naquela época, que, diga-se de passagem, não é tão distante assim, vai dizer que é?
Depois de um opíparo churrasco gaudério, espeto de pau, fogo de chão, carne gorda e, salgada antes de servir, ao contrário do que andam fazendo por aí, dizendo os outros, pois não comungo desta corrente, que é heresia salgar a carne ante de ir para o fogo... discussões a parte, nada melhor que se refestelar com uma boa mesa de doces preparados para a ocasião.
Mas o bom mesmo é arroz com origone!
Ainda que não seja assim nos tradicionais churrascos de domingo, mas muitos conservam a tradição de manter ao menos um bom doce campeiro, que é para não se afastar dos costumes, ou uma ambrosia ou um sagu com creme, se bem que o sagu é doce que desembarcou aqui com a Família Real, feito com os melhores vinhos do Porto, pesquisem...
E, assim, vamos falando para a garotada dos doces daquela época, e, que, muitos não tiveram a oportunidade, ainda, de saborear aquelas verdadeiras maravilhas, tais quais as figadas, marmeladas e goiabadas dos tachos quentes que eram por tanto tempo esperados para esfriarem e serem rapados. Ou, a suntuosidade num prato fundo...
Latas e um pouco mais moderno as caixas de madeira eram encarreiradas em cima da mesa e, uma a uma recebendo o seu quinhão para depois serem herméticamente fechadas...
É claro, deva-se esclarecer que os doces eram feitos com as frutas da época.
Comia-se pudim de laranja, laranja em calda, e, a melhor de todas, as bergamotas no pé da bergamoteira depois do almoço e antes da “siesta”. Tinha coisa melhor?
Tinham os doces mais complicados, diríamos os que exigiam mais habilidades para serem confeccionados e, estes, já bem mais difíceis de aparecerem, mas surgiam com suas freqüências habituais, tal qual o doce de pão, a cuca de uva ou de maçã...
Ariticum, butiá, romã, pitanga, araçá, cáqui, uva, pêssego, banana, guabiju...
A ambrosia somente quando o leite estava em abundância, doce de abóbora tinha que ter cal, mas com um creme de leite..., a pera e sua calda já eram mais delicadas, o doce de morango era muito raro, entre outros.
Também tinham aqueles doces que combinavam com um bom prato fundo e leite de vaca fresco, que eram sorvidos em colheradas fartas, e, sabia-se que eram alimentos sadios e saborosos, escorregadios aos cantos das bocas das crianças mais afoitas.
Um deles era o “mogongo” (de acordo com Dicionário Novo Aurélio, século XXI, editora Nova Fronteira, página 1354- Aurélio Buarque de Holanda Ferreira), caramelado, com leite resfriado, um prato fundo e uma colher de sopa. Prá nós, mogango com leite, bem caramelado e colher suficiente para belas caçambadas naquela mistura áurea, que tem gosto do manjar dos deuses, depois de um arroz, feijão e costela de ovelha frita...
De sabor celestial o encontro do leite com o mogango entremeado pelo açúcar queimado, dando-nos a propriedade impressionável do paladar ao sabor dos deuses, muito longe e bem longe de outras iguarias.
A marmelada, a goiabada e a figada, qualquer das três também eram divinas no prato fundo com leite, e, outros tantos, como ainda acrescentaria a batata-doce no prato fundo, até pode ser...
Mas, também tinham os da cidade, ou quando não se encontrava nas prateleiras dos armazéns ou o dinheiro estava escasso para as marmelada, figadas, goiabadas Ritter, desde 1910, ainda assim essas maravilhosas e inventivas mães nos brindavam com outras novidades que eram tão ou mais gostosas como aquelas que não podíamos comprar.
Dona Iolanda tinha o dom de inventar e, quando o Seu Carretta saía para o trabalho na Viação Férrea, que era por turno, geralmente à noite, a fábrica entrava em funcionamento.
Não temos nenhum doce em casa, apenas algumas bananas. Pois bem, pegue as bananas, corte-as ao comprido, unte uma forma com fina camada de manteiga para não queimar a casca, polvilhe as bananas com açúcar e canela em pó e, quando estiverem assadas, coma-as em pratos de sobremesa e colheres de chá “Bananes Rôties á La Cannelle”.
Isto é ser feliz!!!!

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