O TRATADO
Krretta
Estamos vivendo tempos em que a
intolerância convive lépida e faceira, como se perene fosse, na confraria da espécie
humana.
Reina no ar um espírito bélico, de assaz
incivilidade.
Se eu tenho uma predileção pelo azul,
quem gosta do vermelho tem por mim sentimentos não muito celestiais.
Seu eu opto pelo partido político A, os
pares do B, ou do C, até do Y, me veem um inimigo absoluto.
Se eu tenho em carro da Ford, quem
possui da Renault, Citroen ou Chevrolet afirmam que minha escolha é um grande
equívoco, e passam a externar certa antipatia por mim.
Se eu vou a um restaurante e o garçom me
serve uma bebida quente, quando eu queria bem gelada, o barman é um idiota, não
conhece o seu ofício, um preguiçoso que não quer trabalhar.
Todavia, quando opto pelo vermelho, ou
sou do partido B, ou C, até Y, quando externo aversão pelos “fordianos”, e na
pele do garçom, espremo o guardanapo encharcado no copo do cliente, EU SOU O
CARA!
Nossos dias transformaram-se em
constantes beligerâncias infundadas.
Tipo assim: “Se hay gobierno, soy contra!”
A estupidez de se imaginar fruto da
nobreza, genuína arrogância, converte tudo em um grande enfrentamento,
desmensurado, é claro.
Embora providos de sensibilidade e
inteligência, estamos voltando a passos largos para o período paleolítico, onde
a bestialidade e a ignorância eram inerentes ao Homo Sapiens Neanderthalensis.
“Podemos
escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos”. - Provérbio
Chinês
Valha-me
Deus! Senhor, chegou a hora de fazer um “recall” na casta humana.
Carecemos de uma profunda reflexão tendo
em vista esta exposição cotidiana ao ódio, e a esta agressividade desmedida.
As virtudes da mansidão e do equilíbrio estão
sendo suplantadas em larga escala pelo rancor violento e duradouro, quando a
exposição de argumentos e teorias não conseguem persuadir “nossos oponentes”,
em razão de seus “bytes” programados.
Cada vez mais transformamos nossa
convivência em uma estrada sinuosa e de muitos empecilhos.
Talvez muitos ainda não tenham percebido
quão árdua transmudam suas travessias, neste mundo que pensam só seus, e
abastados pela prepotência, ignoram os preceitos da sociabilidade e da salutar
convivência.
Necessitamos reconstruir nossos conceitos
de coletividade, de evolução da espécie humana, necessitamos elevar acima dos
nossos olhos o véu do orgulho, e da empáfia em querer ser o que não somos,
superiores aos nossos contraditores.
Precisamos exercitar a paciência,
compreender mais, sermos mais tolerantes, aprender e aceitar as contradições
das nossas ideias e convicções, precisamos recitar nos recônditos escaninhos da
alma e do coração, o verbo amar.
Urge que celebremos um tratado, pelo bem
de tudo e de todos.
O Tratado da Benignidade!
É disso que precisamos.