Krretta
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Vais cair nos braços de Morfeu?
Pois esta é uma expressão bastante popular, todavia, um tanto quanto “demodê”, mas muitos de vocês já ouviram, outros, nunca...
Meu grande amigo Batistella era um usuário contumaz desta expressão e o que ele mais gostava de dizer quando ia se retirar de um lugar já quase perto da meia-noite era: “Vou escutar o Antonio Augusto e cair nos braços de Morfeu!”.
Grande Batistella!
Pois esses dias, lembrei-me desta expressão, e, curioso, fui em busca de sua origem, e, qual minha surpresa, a expressão segundo alguns escribas está errada.
A mitologia grega ensina que Hipnos, filho de Erebo e da Noite, era o deus do sono e distribuía docemente sobre a terra e o mar um repouso benéfico e reparador.
Os estudiosos da mitologia acreditam que seu palácio ficava numa caverna perto da região onde habitava um povo descrito por Homero, em sua Ilíada, como vivendo numa escuridão perpétua, e considerado por Heródoto o “pai da história”, como os primeiros ocupantes da Rússia Meridional, de onde foram repelidos através do Cáucaso até a Ásia Menor.
Ainda segundo alguns estudiosos, “junto à entrada da caverna crescem abundantemente papoulas e outras plantas, de cujo suco a Noite extrai o sono, que espalha sobre a terra escurecida”.
Entre os filhos de Hipnos estava Morfeu, que tinha a faculdade de revestir de sonhos a imaginação dos homens adormecidos.
É preciso salientar que os povos primitivos e os da antiguidade viam não apenas o sono como uma atividade fisiológica, mas uma das manifestações do sobrenatural na vida cotidiana.
Entre a farta variedade de drogas que o homem vem se servindo, principalmente na medicina, há milhares de anos, o ópio é uma das mais antigas de que se tem notícia, pois no quarto milênio antes de Cristo, os sumérios já o conheciam, bem como os gregos, os egípcios e os árabes.
Extraído de diversas espécies de papoulas, a planta que existia na entrada da caverna de Hipnos, pai de Morfeu, o ópio contém vinte alcalóides diferentes, sendo a morfina um dos principais.
Isolada em 1805 ela recebeu inicialmente o nome de morphium em alusão a Morfeu, mas depois essa designação foi alterada para morfina, acompanhando a terminação comum a outros produtos tóxicos.
Por isso Hipnos era o deus do sono, e Morfeu o dos sonhos.
Em razão disso, quando a expressão popular “cair nos braços de Morfeu” pretende indicar que alguém vai dormir os sonos dos justos, comete um engano mitológico, porque a lenda explica que o responsável por este estado de repouso é o deus Hipnos, de cujo nome, inclusive, surgiu o prefixo hipno, com o significado de sono, como em hipnose e hipnótico.
Vejam só quanta informação em somente buscar o significado de uma expressão popular, que esteve muito em “voga”, mas que até hoje persiste no dicionário particular de muitas pessoas, e, que ainda a utilizam para enunciar um estado fisiológico e natural.
No entanto, daqui para frente sai Morfeu e assume Hipnos na expressão, ou seja: “Vais cair nos braços de Hipnos”? Que Morfeu esteja contigo!
Agenda também é cultura.
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Fonte: Recanto das Letras - Fernando Kitzinger Dannemann – 18.12.2005
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